Certo dia
estava lendo um artigo de uma professora de filosofia da PUC-SP que falava sobre a mudança de casa e o habitar, habitar um lugar específico, habitar o mundo.
No texto, ela falava que “morar coincide
com existir”. Isso é muito interessante porque significa que se habitamos
um lugar, não apenas estamos nesse
lugar, mas, principalmente, somos nesse
lugar. O nosso ser pessoa, o nosso ser-no-mundo se realiza também a partir do
espaço físico no qual estamos inseridos.
É em um
determinado lugar geográfico que nos relacionamos não apenas com o espaço em si,
mas com as outras pessoas e conosco mesmos. E, à medida que aprofundamos nosso
conhecimento desse espaço e em nossas relações, nos descobrimos a nós mesmos.
Esse descobrir-se a si mesmo implica em um processo de busca da própria
identidade, das próprias convicções, enfim, das motivações que se tem para
viver.
Nos últimos
quatro anos, eu morei em quatro cidades diferentes e, cada nova cidade, me
possibilitou uma nova experiência. Todavia, de início, essas experiências despertaram
crises. Sinto que essas crises podem estar relacionadas ao desinstalar-se que
exige a mudança. Quando
mudamos de uma cidade para outra (no meu caso, também de estado e cultura), saímos
obrigatoriamente da zona de conforto, do estabelecido, do certo e, adentramos em
uma nova realidade, do inseguro, do incerto, do não conhecer ninguém
profundamente. Esse início, que traz junto consigo, uma falta de relações humanas
mais profundas, confesso que me é muito difícil.
Não que eu
não goste de conhecer novos lugares e pessoas. Não é isso. Por exemplo, quando
se viaja a passeio, turismo ou trabalho tem-se uma experiência diferente. Você
vai para um determinado lugar, mas sabe que está ali temporariamente e, logo
depois de um período previamente estabelecido e, em geral, curto, volta para
sua casa, para seu lugar no mundo.
Ao contrário do simplesmente viajar, eu sinto o mudar-se como um ficar temporariamente sem esse “lugar no mundo”, sem essa referência geográfica que reconforta o coração e isso gera em mim certo desconforto e insegurança. Talvez medo. Cada mudança é um novo ciclo a iniciar e sempre composto por novos desafios, novas relações, novas tarefas e mesmo rotinas completamente diferentes. Obviamente, pela experiência, sei que depois de alguns meses (no meu caso muitos meses...) essa sensação de não pertença e de não sentir-se confortável num lugar, vai desaparecendo.
Algumas coisas ajudam nesse
processo. Por exemplo, o arrumar o quarto do seu jeito – colocar cada coisa no “seu”
canto e equilibrar o ambiente (a energia)
– ajuda a que não apenas dominemos o espaço em que estamos, mas o “tomar posse” de um ambiente (nesse
caso, o quarto) nos ajuda e se situar melhor, a sentir-se mais em casa, mais à
vontade.
Outra coisa que ajuda muito é dar
várias voltas pela cidade. Sair de casa. Sair pra conhecer os lugares
da cidade, os caminhos... Gosto de visitar praças, museus ou, simplesmente, passear
pelo centro da cidade, respirar um ar diferente, sentir a cidade. Fazer o mesmo
percurso de ônibus muitas e muitas vezes até sentir-me familiarizado com aquele espaço.
Infelizmente, fica ainda o
problema das relações superficiais, mas isso aí é questão de tempo mesmo. Penso
que não há muito que se fazer com relação a isso. Só o tempo e a convivência são
capazes de fazer brotar uma amizade profunda o suficiente para você ter
segurança de partilhar alguma coisa importante com alguém.
Mas, apesar de tudo isso, a experiência de mudar-se, de realocar-se, de sair da zona de conforto faz com que nos questionemos sobre nossas escolhas e algumas de nossas motivações mais profundas que nos levaram estar nesse determinado lugar. E isso é bom porque nos ajuda a amadurecer um pouco mais. Uma pessoa que se muda nunca permanece a mesma. Ela é sempre nova, sempre se reinventa e, assim, mesmo que às vezes caminhando em meio às trevas da incerteza, cresce.
Mas, apesar de tudo isso, a experiência de mudar-se, de realocar-se, de sair da zona de conforto faz com que nos questionemos sobre nossas escolhas e algumas de nossas motivações mais profundas que nos levaram estar nesse determinado lugar. E isso é bom porque nos ajuda a amadurecer um pouco mais. Uma pessoa que se muda nunca permanece a mesma. Ela é sempre nova, sempre se reinventa e, assim, mesmo que às vezes caminhando em meio às trevas da incerteza, cresce.
0 comentários:
Postar um comentário