Tenho a impressão de
que, em nossa sociedade, - que tem seus fundamentos nas culturas grega, judaica
e cristã - impera um desejo de controle total do mundo. Só nos sentimos
tranquilos e seguros quando tudo o que está ao nosso redor é compreendido nos
seus mínimos detalhes. Sou levado a pensar que esse desejo quase inato de
segurança como consequência da compreensão do mundo tem como expressão
simbólica uma obsessão por definir o que é exatamente certo e o que é
exatamente errado.
Desde a tenra idade,
somos acostumados a pensar que determinados comportamentos, ações ou
pensamentos podem sempre ser concebidos a partir desse binário quase
maniqueísta: algo ou é bom ou é mau. O problema é que pensar desse modo, não
abre espaço para o diálogo e, portanto, dificulta o crescimento humano. É
preciso certa dose de insegurança, é preciso suportar um pouco de incerteza e
tomar consciência de que não se pode conter um sentimento e, mesmo que
pudéssemos, não é o caminho adequado, se quisermos progredir no conhecimento de
nós mesmos e aprofundar nossa relação com as outras pessoas.
É necessário darmos
espaço para um certo nível de ambiguidade em nossas
vidas, pois, sem isso, a vida não apenas perde seu colorido, sua
multiplicidade, mas perde também a sua harmonia. Fica como o instrumento
desafinado ou como as mãos travadas do músico paralisado pelo medo na grande
orquestra que é o mundo.
Não estou fazendo aqui
uma um apologia da anarquia em relação a valores ou instituições fundamentais.
Estou convidando todos a uma reflexão sobre a importância do diálogo e da
necessidade de sair da própria zona de conforto (isso dói!!!) se a pessoa
quiser crescer enquanto ser humano na contemporaneidade. É preciso deixar-se
confrontar com os próprios sentimentos e as próprias dúvidas. Devemos
suavemente saborear a agonia específica da inquietação causada pela insegurança
daquilo que desconhecemos ou que sentimos.
Apenas
"curtindo" esses sentimentos aparentemente contraditórios seremos
capazes de alcançar cada vez mais um amadurecimento dos nossos afetos e, enfim,
poderemos curtir também o suave, mas profundo, sabor da alegria de viver.
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