Pesquisando...
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Tecnologia e ética: pensar nos impactos do progresso tecnológico na vida das pessoas também é tarefa dos “engenheiros”

Estive pensando sobre o abismo de comunicação existente entre quem trabalha com Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PDI) na tecnologia e quem atua no campo da pesquisa e reflexão ética dessa mesma tecnologia. O que desejo alertar é que essa reflexão crítica pode estar danosamente confinada aos círculos filosóficos, isto é, não consegue penetrar ou encontrar eco naqueles que são como que os principais articuladores dos processos de PDI. Preocupa-se demasiado em aprender técnicas e ferramentas, em publicar artigos ou resolver problemas, mas esquece-se de parar um instante para refletir sobre o sentido do que se faz, sobre as implicações éticas daquilo que é desenvolvido.

Quando afirmo “implicações éticas” não me refiro apenas ao modo como se usa determinada ferramenta tecnológica, mas quero trazer à tona a necessidade de discussão dos possíveis impactos que esses “produtos” podem ter sobre a vida das pessoas, nos seus relacionamentos, modo de enxergar o mundo e perceber-se nele. 

Até que ponto um software para televisão digital que, por exemplo, realiza um bloqueio automático e personalizado de conteúdo pode ser uma ferramenta de auxílio na educação dos filhos e não um moderno mecanismo de censura? O que pensar de um algoritmo que “personaliza” os relacionamentos nas redes sociais ou o modo de navegar na Internet ao ponto de alguém que tem opiniões ou uma visão de mundo diferente tornar-se “invisível”? Que impactos as relações humanas podem ter devido a interatividade da televisão digital, do acelerado e colossal fluxo de informações nas redes sociais e agências de notícias na internet e o uso de tudo isso em um equipamento portátil? 

Certa vez li um livro intitulado “Introdução à Engenharia”, em um dos capítulos o autor discursava sobre o papel social do engenheiro, o que levou-me a perceber que a engenharia não deve ser encarada apenas como um instrumento de solução de problemas, desenvolvimento de produtos ou um mero meio de satisfação pessoal, a engenharia deve ser uma forma de serviço aos outros, posto que está à serviço da construção de uma sociedade melhor. 

Nessa breve reflexão, amplio o conceito de “engenheiro” para todas as pessoas que , de algum modo, desenvolvem tecnologias. Penso que não podemos construir, de fato, um mundo melhor sem pararmos alguns instantes para refletirmos criticamente sobre os processos de desenvolvimento que utilizamos, desde o insight ou a “necessidade” que gerou uma demanda por nova tecnologia e a sua utilização comercial até a sua real contribuição para o desenvolvimento humano. 

É nossa responsabilidade, enquanto desenvolvedores de tecnologias, preocuparmo-nos com esses impactos na sociedade, afinal, temos nossa parcela de contribuição na criação e manutenção do mundo e, por isso, precisamos ajudar que a humanidade seja servida pelas coisas que desenvolve e não o contrário.

------
Artigo escrito e veiculado através de correio eletrônico em Outubro/2012 

0 comentários:

Postar um comentário

 
Voltar ao topo!