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domingo, 3 de março de 2013

"A Felicidade, desesperadamente"

"A Felicidade, desesperadamente" é a transcrição de uma conferência do filósofo francês André Comte-Sponville. O filósofo é materialista, ateu e ex-aluno da École Normale Supérieure. Alguns de seus trabalhos dialogam com o pensamento de Michel de Montaigne, Blaise Pascal, Epicuro, Spinoza, Nietzsche, Wittgenstein e Heidegger.

Comte-Sponville publicou várias obras, dentre as quais destaco: “Pequeno Tratado das Grandes Virtudes”, “Uma educação filosófica”, “Viver” e “O Espírito do Ateísmo: uma espiritualidade sem Deus”.

Abaixo, um resumo sintético da conferência feita por ele e publicada em português pela Martins Fontes.
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O autor iniciou a conferência afirmando que a felicidade interessa a todo mundo e apresentou a necessidade de retomar a tradição filosófica grega, visto que foram eles quem iniciaram os questionamentos sobre as questões referentes à sabedoria e à felicidade. Por esse motivo, ele situou seu discurso no contexto dessa tradição filosófica e, afirmou que a maioria dos filósofos contemporâneos como que esqueceram esses temas. Ao final da introdução, fez uma breve síntese do que seria abordado ao longo da conferência.

Na primeira parte, a partir de um pensamento de Camus, o autor afirmou que por sermos mortais e infelizes é que precisamos filosofar. A partir daí ele apresentou alguns motivos de infelicidade (dentre eles a falta de sabedoria) e comparou a “sabedoria ideal” e “absoluta” dos estoicos com a “sabedoria da vida cotidiana” e acessível de Montaigne. Em Platão e Pascal, reconheceu que o desejo de felicidade é frustrado porque o desejo é falta e isso significa que, na medida em que desejamos somente aquilo que nos falta, a felicidade se torna impossível. Então, ele apresentou algumas estratégias para escapar do “ciclo de frustração e tédio” em que o desejo (ao modo de esperança) nos põe e considerou que a melhor saída é libertar-se da própria esperança. 

Na segunda parte da conferência, ele introduziu, com exemplos, a ideia de que há prazer e alegria quando desejamos o que não nos falta e disse haver uma “felicidade em ato” e que essa felicidade é desesperada, isto é, não espera nada. Ele afirmou ainda que a esperança é diferente do desejo, pois, nem todo desejo é uma esperança, mas toda esperança é um desejo. Ainda nessa parte do discurso, apresentou as características da esperança: desejar sem gozar, desejar sem conhecer, desejar sem poder. 

Na última parte, o tema do desejo continuou a ser aprofundado através da apresentação de outras duas maneiras de desejar: amor e vontade. O autor comparou esses dois diferentes modos de desejo com a esperança. O amor se refere ao que é real, enquanto a esperança ao que é irreal. A vontade diz respeito ao que depende de nós (está em nossa capacidade), enquanto a esperança é relativa ao que não depende de nós (fatores alheios ao nosso poder). Citando outros pensadores mais antigos, afirmou que a felicidade é desesperadora e que o sábio é feliz porque não espera nada, não teme nada, deseja apenas o real (o que sabe, pode, goza) que nunca falta. Ele concluiu que a felicidade desesperada é amor, o amor é desejo e o desejo não é falta, mas alegria ou gozo gratuito, isto é, o amor nada pede, apenas se regozija. Afirmou ainda que não se deve impedir de esperar, mas aprender a pensar, a querer um pouco mais e a amar um pouco melhor, pois a felicidade é um processo, um movimento, um eterno recomeço.

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