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sexta-feira, 17 de maio de 2013

Sair de casa...


Certo dia estava lendo um artigo de uma professora de filosofia da PUC-SP que falava sobre a mudança de casa e o habitar, habitar um lugar específico, habitar o mundo. No texto, ela falava que “morar coincide com existir”. Isso é muito interessante porque significa que se habitamos um lugar, não apenas estamos nesse lugar, mas, principalmente, somos nesse lugar. O nosso ser pessoa, o nosso ser-no-mundo se realiza também a partir do espaço físico no qual estamos inseridos.

É em um determinado lugar geográfico que nos relacionamos não apenas com o espaço em si, mas com as outras pessoas e conosco mesmos. E, à medida que aprofundamos nosso conhecimento desse espaço e em nossas relações, nos descobrimos a nós mesmos. Esse descobrir-se a si mesmo implica em um processo de busca da própria identidade, das próprias convicções, enfim, das motivações que se tem para viver.

Nos últimos quatro anos, eu morei em quatro cidades diferentes e, cada nova cidade, me possibilitou uma nova experiência. Todavia, de início, essas experiências despertaram crises. Sinto que essas crises podem estar relacionadas ao desinstalar-se que exige a mudança. Quando mudamos de uma cidade para outra (no meu caso, também de estado e cultura), saímos obrigatoriamente da zona de conforto, do estabelecido, do certo e, adentramos em uma nova realidade, do inseguro, do incerto, do não conhecer ninguém profundamente. Esse início, que traz junto consigo, uma falta de relações humanas mais profundas, confesso que me é muito difícil.

Não que eu não goste de conhecer novos lugares e pessoas. Não é isso. Por exemplo, quando se viaja a passeio, turismo ou trabalho tem-se uma experiência diferente. Você vai para um determinado lugar, mas sabe que está ali temporariamente e, logo depois de um período previamente estabelecido e, em geral, curto, volta para sua casa, para seu lugar no mundo.

Ao contrário do simplesmente viajar, eu sinto o mudar-se como um ficar temporariamente sem esse “lugar no mundo”, sem essa referência geográfica que reconforta o coração e isso gera em mim certo desconforto e insegurança. Talvez medo. Cada mudança é um novo ciclo a iniciar e sempre composto por novos desafios, novas relações, novas tarefas e mesmo rotinas completamente diferentes. Obviamente, pela experiência, sei que depois de alguns meses (no meu caso muitos meses...) essa sensação de não pertença e de não sentir-se confortável num lugar, vai desaparecendo.

Algumas coisas ajudam nesse processo. Por exemplo, o arrumar o quarto do seu jeito – colocar cada coisa no “seu” canto e equilibrar o ambiente (a energia) – ajuda a que não apenas dominemos o espaço em que estamos, mas o “tomar posse” de um ambiente (nesse caso, o quarto) nos ajuda e se situar melhor, a sentir-se mais em casa, mais à vontade.

Outra coisa que ajuda muito é dar várias voltas pela cidade. Sair de casa. Sair pra conhecer os lugares da cidade, os caminhos... Gosto de visitar praças, museus ou, simplesmente, passear pelo centro da cidade, respirar um ar diferente, sentir a cidade. Fazer o mesmo percurso de ônibus muitas e muitas vezes até sentir-me familiarizado com aquele espaço.

Infelizmente, fica ainda o problema das relações superficiais, mas isso aí é questão de tempo mesmo. Penso que não há muito que se fazer com relação a isso. Só o tempo e a convivência são capazes de fazer brotar uma amizade profunda o suficiente para você ter segurança de partilhar alguma coisa importante com alguém.

Mas, apesar de tudo isso, a experiência de mudar-se, de realocar-se, de sair da zona de conforto faz com que nos questionemos sobre nossas escolhas e algumas de nossas motivações mais profundas que nos levaram estar nesse determinado lugar. E isso é bom porque nos ajuda a amadurecer um pouco mais. Uma pessoa que se muda nunca permanece a mesma. Ela é sempre nova, sempre se reinventa e, assim, mesmo que às vezes caminhando em meio às trevas da incerteza, cresce.

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