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sábado, 23 de março de 2013

Realidade e Utopia (ou Quando "veremos face a face"?)

Certa noite, ao ler sobre vida comunitária, um autor discursava sobre como uma comunidade pode ser destruída por um simples conceito de comunidade ideal. Ele falava de como o idealismo (nesse caso, "uma utopia comunitária") vai nos distanciando da realidade e levando à frustração, visto que no mundo real nada é perfeito.

Entretanto, o que mais chamou minha atenção foi o fato de haver em minha mente não apenas a "comunidade ideal", mas também a "companheira ideal", o "amigo ideal", a "Igreja ideal", o "eu ideal" e, como se não fosse o suficiente, eu havia criado também imagens de um "Deus ideal". Imagens, aliás, incrivelmente parecidas comigo, ou pelo menos com aquilo que eu achava que deveria ser.

De início, essa constatação levou-me a questionar se algum dia vou conhecer Deus de verdade porque a pessoa que deveria ser a face visível dEle ("Quem me vê, vê o Pai" Jo 14,9), ou o mais próximo disso, só é apresentado a mim através de imagens que outras pessoas (que, talvez, nem o conheceram pessoalmente) fizeram dele, a partir daquilo que ouviram outros contar, ou que simplesmente escreveram porque seria algo que ele (Jesus) muito bem poderia ter feito ou dito, de acordo com o que aprenderam sobre o que Ele ensinou.

Desse ponto em diante é preciso ter alguma fé para prosseguir, pois a imagem que sou impelido a fazer de Deus, só pode ser construída a partir do testemunho dessas pessoas, ou seja, dos Evangelhos e da Tradição. Sendo assim, objetivamente, tudo o que tenho é: A imagem que faço a partir da imagem que fizeram daquele que é a imagem do Pai. Nossa, quantas imagens! É preciso ter Fé!

Nesse momento, sinto chegar a uma interessante questão: vivo em um mundo real (concreto), mas minha mente o traduz de forma simbólica. Assim, parece-me que, à primeira vista, aquilo que vejo não é o que vejo verdadeiramente, todavia é uma aproximação do que de fato é. O mais interessante disso é que determinada coisa não deixará de ser o que é apenas porque não há uma representação simbólica que o traduza adequadamente, ou melhor, essa coisa simplesmente é o que é, quer eu saiba o que ele é verdadeiramente, quer não.

No fim, a impressão que tenho é que a vida é um complexo e contínuo jogo ou emaranhado de imagens que vão sendo construídas, destruídas e reconstruídas de diversos modos ou não. Quando descubro a imagem que fiz de algo, desfaço-me dela, mas dali a pouco tomo consciência de que estou, novamente, diante de uma imagem (talvez, menos imperfeita é verdade, mas ainda assim uma imagem).

O fato é que estamos eternamente encarcerados nessa imensa teia simbólica que construímos como sendo a realidade e, talvez, seja essa a nossa verdadeira busca que, aliás, para mim, era a mesma do cego de Jericó, filho de Timeu (Bartimeu): "Senhor, que eu veja!" (Mc 10,51)

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